segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Aleitamento materno: o que ninguém fala.


Que o aleitamento materno é indiscutivelmente o melhor e mais completo alimento para o bebê isso todos nós já sabemos. As campanhas estão aí para reforçar a idéia no inconsciente coletivo (inclusive no meu).
O que ninguém comenta é o quão difícil essa missão é para algumas mulheres. No Brasil, apenas uma pequena parcela das mulheres conseguem amamentar até os 6 meses só com o leite materno. Esse é o motivo principal das campanhas incessantes.
Confesso que sendo médica eu já sabia muita coisa sobre aleitamento (na teoria, é claro), mas nada me preparou para o que venho enfrentando nas últimas semanas e espero que esse post sirva de alguma forma para as mães de primeira viagem ou aquelas que querem um dia amamentar, como eu.

Primeiro: a preparação deve ser iniciada ANTES do parto. Se o seu mamilo não é bem protuso (plano, semi-plano ou invertido) compre conchas rígidas e as use somente de dia. Tomar banho de sol nos seios também ajuda a preparar a pele no local.
Esses cuidados devem ser iniciados de preferência com 30 semanas de gestação. Se ainda assim os mamilos não se formarem existem os bicos de silicone, que para muitas podem ser recursos válidos (embora sejam alvos de muita crítica). Nesse primeiro momento, fuja dos obstetras que não examinam os seios no pré-natal.

Outros aspectos dignos de nota:

Colostro (leite inicial): não acredite se alguém falar que você não tem colostro ou que o mesmo é pouco. O estômago do bebê é tão pequeno que bastam aquelas gotas para satisfazê-lo. Esse início é fundamental. Amamente na sala de parto (ou pelo menos tente). Não se desgrude do bebê. E ofereça o seio sempre que possível. A informação gerada nos primeiros dias faz com que a produção seja calculada pelo corpo de acordo com a necessidade de cada bebê. A natureza é sábia.

A apojadura é outro momento de estresse (é o que chamamos de descida do leite): muito incômodo. Aqui a salvação pode ser uma bomba (eu indico a swing da Medela) para descongestionar e aliviar a dor.

Parto normal e cesárea: mulheres que passam por cesárea tem mais dificuldades para amamentar, pois o processo de descida do leite pode ser lentificado.

O bebê: não é só a mãe que tem que aprender o jeito certo de amamentar, mas o bebê também precisa aprender a mamar e a velocidade com que isso ocorre pode variar entre mãe e filho, gerando problemas. A icterícia pode deixar o bebê mais sonolento dificultando essa curva de aprendizagem. A língua curta e o palato duro (céu da boca) muito alto dificultam o bebê a sugar.Tem muitos outros probleminhas que contribuem para dificultar todo o processo, estou listando alguns dos mais importantes.

Peça para as enfermeiras da maternidade e familiares não se intrometerem na forma como você vai conduzir a situação. O estresse e sempre aquelas opiniões gratuitas (e desnecessárias) chovem nesse momento. Outro problema é que muitos pediatras e obstetras não estimulam muito o aleitamento materno. Por incrível que pareça o serviço público (alguns hospitais) é superior ao privado nesse tipo de orientação/estímulo.

Procure um banco de leite. No Rio de Janeiro, recomendo o do Fernandes Figueira, um serviço de primeiro mundo. Fui atendida não só por enfermeiras, como pediatras e fonoaudiólogas. Pena que não fui lá logo no início.

Pomadas para fissuras (rachaduras no seio): lansinoh (lanolina a 100%) é a melhor e o bebê pode entrar em contato com a mesma sem problema algum. Outro recurso é o próprio leite materno. Tem umas placas de gel que duram 7 dias que são fantásticas (cicatrizam tudo). Vendem na Cantinho da mamãe (empresa que também representa a Medela no Brasil)

Leitura sugerida: para ler antes do parto (como não fiz isso me arrependi amargamente depois): a encantadora de bebês inglesa Tracy Hogg tem dois livros em português (vide foto). Leitura recomendadíssima. Eu a descobri através de uma grande amiga que me presenteou com um deles.

Translactação: após muita gente me ensinar como fazer (e muitas vezes de maneira errada) hoje sou PhD nesse assunto. Esta é a última cartada. A sonda usada é a número 4 só para lembrar. Os sistemas existentes são o mammatutti e o SNS da Medela.

Cursos imperdíveis: a Stephanie, a nossa francesa/brasileira encantadora de bebês, é uma pessoa incrível que eu conheci nessa minha jornada e que me ensinou muitas dicas, a filosofia dela parece muito com a do livro da Tracy. Pena que a descobri muito tardiamente. Foi na internet, inclusive. As aulas delas de aleitamento materno estão sempre lotadas. Ela possui um cronograma com inúmeros temas e tem aula até para os avós.
Outros temas: primeiros socorros, enxoval. Acessem o site dela. E não comprem berços até conhecê-la, ok?Como eu e meu marido nos arrependemos depois que descobrimos como um quarto de bebê deve ser, pois o fazemos pensando em tudo menos no que realmente interessa aos nossos pequenos...

Voltando ao assunto...se ainda assim não houver sucesso, existem leites artificiais (melhores do que os do passado) com as quais se pode contar (idealmente até os 6 meses de vida deve conter DHA e ARA com ferro na fórmula)-é o famoso complemento. Necessário quando realmente não há produção suficiente de leite. Na minha jornada descobri que existe uma organização internacional só desse assunto. E tem muita mulher que não sabe a causa (que são inúmeras), mas sofre com esse problema. Só que NINGUÉM comenta.

Dessa forma, desculpem pela minha ausência, minha vida nessas últimas semanas se resume a essa "guerra". Confesso que irei até o meu limite. Cada um tem e sabe o seu. O que não se pode é prejudicar o crescimento e desenvolvimento do seu bebê, pois deixar de alimentá-lo por um ideal também não é saudável. Confesso que minha vontade em amamentar é muito grande, mas tudo tem um limite real que deve ser respeitado. A vida traz aprendizado a todo momento, quando você pensa que terminou você só está começando...

Uma boa semana a todos!

5 comentários:

  1. olha, na boa.

    quando soube que estava grávida, comecei a esfregar o bico do seio com bucha vegetal TODOS os dias desde os primeiros meses. Tudo o que mandavam fazer eu fazia pois eu queria fazer tudo certinho e do melhor para a minha filha. Sempre li que o leite materno é o melhor alimento (até acredito), que não existe mulher que não tenha leite, blablabla... e essa para mim era a verdade.

    Depois do parto, meu leite empedrou, as enfermeiras tiveram que fazer compressa.
    Quando fui pra casa, parecia tudo bem. O bico não rachou. Eu fazia tudo como mandavam os livros, as comadres, os médicos, dava o peito a cada 3 horas , depois passei a cada 2 horas, mas minha filha não recuperava o (excelente) peso com que nasceu (3,300g).

    Depois de 1,5 mes, tomando 2 cópos de água a cada mamada, tomando água inglesa, deixando de comer isso ou aquilo, comendo aquele outro, minha filha parecia um bebê da Etiopia. Quando o médico finalmente mandou fazer o aleitamento misto, dei o peito e depois uma mamadeira. A bichinha devorou a mamadeira. Achei que o problema era a dificuldade em sugar o leite do peito, pensei: ah, se voce não quer o peito, ao menos vai tomar meu leite na mamadeira. Fui tirar o leite com uma bombinha, e sabe? Não tinha nem 30 ml de leite.
    Moral da estória: eu estava submetendo voluntariamente a menina a passar fome, porisso ela chorava tanto, e eu achava que eram cólicas.
    Mandei os médicos e as campanhas de aleitamento às favas, daí por diante minha filha ficou só no Nan , recuperou rapidamente o peso, e cresceu forte e saudável. Hoje está com 10 anos.

    Então, eu acho super válido incentivar a amamentação. Mas o que fazem com a gente é uma verdadeira lavagem cerebral, e por conta de não questionar essas ditas "verdades absolutas" eu, uma pessoa culturalmente e financeiramente privilegiada, que devorava informações e não tinha a preocupação de quanto custaria a lata de leite, estava matando minha filha de fome.

    Depois do que ocorreu comigo, conversando com outras mães, conclui que a amamentação é uma coisa linda de se ver nos quadros. Na maioria das vezes é desconfortável (não foi este o meu caso), ou , por incrivel que possa parecer para quem não passou por estas dificuldades, impossivel.

    E não me venham as radicais dizer que EU fiz ou deixei de fazer alguma coisa que dificultou todo o processo. Amamentar é uma coisa tão primitiva, que deveria ser automática. E hoje vêem-se mães fazendo acupuntura, terapia disso ou aquilo, simplesmente PORQUE NÃO ROLA. E o pior , acabam se culpando por não conseguir, já que a humanidade se encarrega de afirmar que se não dá certo é pq voce não sabe ou não quer fazer.

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  2. Querida, como você está? E o baby? me mande umas notícias quando tiver tempo, tá? bjinhos

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  3. Doutora o meu problema é justamente o contrário, minha filha vai fazer 6 anos e não quer deixar de mamar, o pior é que eu gosto.
    O problema é que uso muita cosia no rosto, ácidos protetor solar, etc.
    Queria saber se esses produtos que uso no rosto passam para o leite?

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  4. A questão é que amamentar até os 6 anos não é saudável, pelo contrário, pode ser até prejudicial sob o aspecto psicológico da criança. Pergunte para qualquer psicólogo.
    E nutricionalmente falando mais atrapalha que ajuda.
    Em relação a liberação durante a amamentação existe uma classificação de liberação de determinados ativos. Isso depende do que exatamente você estiver usando.

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  5. Eu uso ácidos sempre, agora estou com o Diacneal, mas as vezes uso vital A, Azelan, Diferin. Klassis. Só aboli o uso de produtos que tenha a oxibenzona e evito hidroquinona.
    Mas a pediatra e a dermatologista que acompanham ela me garantiram que o uso de ácidos não tem problema, que não excretam para o leite.

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