Neurose de limpeza: o que é real?

Neurose de limpeza é um comportamento frequente em nosso meio, muito estimulado pelos antissépticos da moda e até por médicos. Conheço inclusive pessoas que tem frascos e barras de Protex espalhados pelos 4 cantos da casa, achando que estão protegidas e que, no entanto, pecam em muitos outros aspectos.

Vou relatar algumas situações frequentes e básicas que muitas das vezes passam desapercebidas:

1-Não trocar a lâmina depilatória, afinal ela foi feita para ser descartável. No máximo, deve ser higienizada com álcool a 70% para ser reutilizada. Nada de deixar jogada em um canto a ser usada eternamente sem nenhum cuidado. Esse tipo de comportamento é extremamente comum (embora pouco confessado). O risco maior de dar complicações são naqueles indivíduos com tendência a foliculite (inflamação, infecção e encravamento de pelos).

2-Usar sabão em barra. Hoje se sabe que a barra contamina com muita facilidade, em especial quando é compartilhada. Vocês já viram banheiro de hospital ter sabonete em barra? Se olharem saiam correndo de lá.

3-Atitudes erradas em banheiros públicos. Não sei o que é pior: dar descarga diretamente com a mão ou deixar um presentinho pro próximo usuário. Nossa... como eu queria começar uma campanha nacional para estimular as pessoas a deixarem o banheiro público reutilizável para o próximo. Não me canso de entrar em banheiros (inclusive em shoppings bem elitizados) e ter que vasculhar alguns sanitários em busca de um decente. Já cheguei a acreditar que as pessoas esquecem que tem mão e uma descarga na sua frente. Se você não suporta a idéia de apertar diretamente, uma dica é usar o próprio papel higiênico (limpo, é claro) para dar a descarga e abrir a porta. Em seguida, lave as mãos e use o papel toalha para fechar a torneira (quando não for automática) e finalmente abrir a porta do banheiro. Não adianta todo esforço na lavagem das mãos se no final você se contamina ao sair de lá.

4-Lavar em excesso as mãos. Vocês sabiam que isso pode causar doenças? Certa vez consultei uma criança que tinha obsessão por lavar as mãos (advinhem com o quê...Protex!) e que estava com uma micose na unha. Criança com micose na unha é algo raríssimo. A conduta que tomei foi orientar a troca do sabonete por um comum de glicerina líquido e diminuição do número de lavagens. Não precisou de nenhum antifúngico, bastou harmonizar o ambiente e a micose desapareceu.

Dessa forma, não se deve ser radical em termos de limpeza. Ter higiene é importante, o grande problema é quando essa noção estrapola os limites do tolerável, podendo causar problemas. Inclusive alguns pediatras usam uma brincadeira para passar o recado: recomendam que as crianças a partir de uma certa idade tomem "vitamina S" (de Sujeira), pois a sujeira faz parte da vida e é importante em um determinado momento para criarmos nossas próprias defesas. Nem 8 nem 80.